Há uns meses atrás gravei um podcast no RotuCast falando sobre as mudanças do mercado de design através da chegada da inteligência artificial. Na época, a palavra “medo” foi o termo mais utilizado por mim nesse encontro. O medo de que as profissões criativas pudessem acabar de forma rápida e instantânea sem que ao menos conseguíssemos passar por um período de transição, de adaptação.
Entretanto, conforme fui conhecendo essas novas ferramentas, pude perceber que a palavra correta para o que estávamos sentindo seria “desconhecimento“. O ser humano tem medo de mudança, mas principalmente do que ainda é desconhecido por ele.
O desconhecido assusta, tira o ser humano da zona de conforto.
Comecei então a utilizar IAs no meu dia-a-dia, explorando as diversas opções disponíveis em diferentes momentos, fazendo parte do meu processo criativo como designer de embalagem. A ideia era responder dúvidas internas através da minha própria experiência com as ferramentas. Eu queria responder perguntas como: “Eu posso utilizar IA em um processo criativo?”, ou “Eu consigo gerar conexão com as pessoas se eu utilizar IA?”. 🤔
E a resposta é: depende.
Depende de como você vai utilizar estas ferramentas.
Acredito que nós podemos enxergar as IAs como começo e até mesmo como meio de um processo criativo, assim como já fazemos com inúmeras plataformas, ferramentas e redes sociais. Ela pode fazer parte da base criativa, da pesquisa e imersão de um projeto. Utilizar MidJourney, Chat GPT, DALL-E ou qualquer outra similar, pode ajudar a trazer inspirações visuais em processos de design de qualquer área.
Durante estas semanas de testes comecei a utilizar em 3 principais momentos: como ferramenta para auxiliar na geração de ideias, otimização na pesquisa e até mesmo na análise de dados e feedbacks de consumidores.
1. Geração de ideias
Usei a IA para me inspirar na escolha de cenários de uma sessão de fotografia relacionada a um projeto de cosméticos. Para isso usei um prompt simples como: “scene for photos of a vegan cosmetic product; 8k” e me renderam boas alternativas. Aos poucos fui evoluindo o prompt para me ajudar a gerar cenários mais fáceis de aplicar no dia-a-dia que teriam baixo custo de investimento. E em poucos minutos tive acesso a inúmeras ideias de cenários mais acessíveis e práticos.

2. Otimização na pesquisa
Com a IA é possível criar embalagens personalizadas com base em dados demográficos, preferências do consumidor ou outros parâmetros. As ferramentas podem nos ajudar a analisar o perfil de cada consumidor, prever tendências e comportamentos.
3. Análise de feedback do consumidor
Através do processamento de linguagem natural (NLP) e técnicas de análise de sentimento, a IA pode ajudar a analisar o feedback do consumidor sobre as embalagens. Com base nessas análises, nós, designers, poderemos obter insights valiosos sobre o desempenho de uma embalagem e realizar melhorias significativas.
A grande questão que pude perceber ao longo dos testes é que é fácil de esquecer o propósito do que está criando se você não tiver um escopo bem definido no papel. Saber quais palavras-chave usar, saber se expressar corretamente nem sempre é uma tarefa fácil.
E se a gente não souber o que quer, de nada adianta ter acesso à ferramenta.
Além de tudo isso, pode ser tentador criar uma imagem utilizando MidJourney sem pensar em quem de fato vai consumir aquele produto, pensando apenas e exclusivamente na estética. É muito fácil cair na tentação de criar um conteúdo para um blog utilizando apenas o que o Chat GPT gera, sem reflexões reais.
Acontece que quando a ferramenta é utilizada apenas como o fim de um processo, apenas para gerar um conteúdo desenfreado sem sentido, ela perde seu valor.
Eu estava lendo o texto “I Published a ChatGPT Article On My Website — Here’s What Happened” publicada no Médium, que testou justamente utilizar ferramentas de inteligência artificial como solução final de um processo criativo, sem interferência ou complementação de ideias humanas. O teste foi apenas copiar e colar o texto gerado pela IA em um blog. O resultado? Engajaram muito menos nas buscas.
Nina Talks no seu artigo “Como não falar de IA generativa?“: disse uma coisa muito interessante: “Como tudo criado pelo humano para o humano, toda e qualquer tecnologia está sujeita ao mau uso.” Ela estava falando principalmente de ética e segurança. Se usado corretamente, as ferramentas podem ser incrivelmente capazes de conduzir a exploração visual de qualquer criação. Mas, é importante termos cuidado em como essa ferramenta está sendo alimentada pelos bancos de dados, sobre risco de deep fakes, direitos de uso, transparência e dos demais impactos gerados por ela se não for controlada por seus criadores.
As pessoas querem ver projetos criados por pessoas. Queremos ler textos escritos por pessoas. É importante utilizarmos a nossa própria bagagem para fazer conexões e discussões sobre qualquer assunto, para gerar uma conexão forte uns com os outros.
Lembrei de um artigo que li no começo de 2023, “O consumidor não existe” publicado por Fabio Mestriner, que traz uma abordagem muito interessante sobre o que de fato impressiona os consumidores para comprar um produto – e é incrível como essa leitura está, de certa forma, relacionada com o fato de eu não ter mais medo dessas novas ferramentas.
No artigo, o professor cita o livro “O cérebro do século XXI” de Steven Rose que diz: “o cérebro humano funciona com significados”, e em seguida complementa: “grande parte do que ocupa nossa mente e nos faz adquirir a realidade que percebemos, está justamente em atribuir significados a tudo que percebemos pois são eles, os significados, que nos permitem armazenar na memória aquilo que de alguma forma impressionou nossos sentidos.”
Nós, seres humanos, nos identificamos com histórias, sentimentos e significados reais.💡
Então, se você me perguntar hoje se eu tenho medo das novas ferramentas de inteligência artificial, eu provavelmente vou responder que eu só tenho medo do desconhecido, sobretudo em criar algo sem sentido de existir.
Indicações de leitura / estudo:
📒 AI Sample Trend Report da Trend Hunter: https://storage.pardot.com/787783/1684421645fZizpd0Q/AI_Sample_Trend_Report.pdf
▶️ Adobe Firefly. Uma família de modelos de IA generativa para criação nos produtos da Adobe: https://www.adobe.com/br/sensei/generative-ai/firefly.html
💻 Banco de IAs para encontrar as melhores ferramentas de Inteligência Artificial: https://www.futurepedia.io
🗂️ Outras fontes de pesquisa em artigos recomendados para qualquer assunto: Google Scholar, Scopus e IEEE Xplore.
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Aqui é a Priscylla, Designer apaixonada por marcas e embalagens. Sou graduada pela UTFPR – Universidade Federal Tecnológica do Paraná e especialista em Desenvolvimento de Embalagem através do MBA da FACAMP.
Enquanto dirijo o meu próprio estúdio de design, também co-administro o Curso de Design de Embalagem, Rotulando®, por onde ensino e palestro sobre embalagem diariamente. Além disso, sou co-autora do livro Rotubook, um guia de design de embalagem que está nas livrarias de todo o Brasil.
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